segunda-feira, 25 de abril de 2016

Conheça a Ortorexia


Eu escrevi este artigo a pedido da Lara da MADE Magazine.

Na qualidade de presidente da ComMedida, uma associação de apoio a doentes com distúrbios alimentares, vivo diariamente o drama de amigos, familiares e dos doentes anónimos  tendo formado uma ideia muito própria sobre os distúrbios alimentares. Aqui vou expressar o meu ponto de vista. Sendo realista e nunca pessimista, entendo a frase "A vida faz mal à saúde" como tudo em excesso pode vir a transformar-se num distúrbio disfuncional e o 'click' é sem dúvida o equilíbrio.

Nos dias de hoje não devemos ignorar a manipulação da informação, ​e, paralelamente, a desinformação com que nos deparamos no dia-a-dia, em todas as áreas. Ninguém tem dúvida que consumimos produtos altamente nocivos, que são promovidos por um marketing agressivo, e não raras vezes recomendados por médicos, por nutricionistas e  até mesmo por aqueles que mais nós amamos, como as mães e as avós.

Cada um tem, obviamente, o direito de ser livre. Isso inclui comer o que desejar e não o que a maioria deseja que se coma, mas sem pôr em risco a sua saúde ou a dos outros. É muito importante alimentar​-se ​de forma mais saudável (se desejar)  ​mas o que é saudável nos dias de hoje, ontem era considerado como  prejudicial e amanhã logo veremos.

Antes de falarmos da ortorexia nervosa propriamente dita, vamos analisar uma nova MODA vulgarmente designada por “ser saudável”A utilização do micro-ondas pode constituir um sério problema para a saúde. Já está provado mundialmente que o seu uso é a causa de vários tipos de doença.

As filosofias alimentares estão a mudar, associadas à, cada vez maior, consciencialização do direito à liberdade de cada um optar por determinado tipo de regras alimentares que sejam consentâneos com os princípios de vida que mais lhe agradam. Excluir alimentos que até hoje foram considerados normais, por exemplo, açúcar, alimentos tóxicos, alimentos transgénicos, com agro-tóxicos, corantes, conservantes, gorduras trans, pesticidas, sal, entre muitos outros. Ou mesmo ir ao ponto de exclusão de grupos de alimentos considerados até hoje importantes para uma nutrição, não pode ser só por si uma mera rotulação.

Falemos agora do distúrbio propriamente dito:
A ortorexia nervosa é um novo distúrbio do comportamento alimentar, caracterizado por uma obsessão para comer saudável. O termo foi criado pelo autor do livro 'Health Food Junkies' (Viciados em comida saudável), o médico Steven Bratman, e vem do grego 'ortho' (correto) e 'orexis' (apetite). É considerado distúrbio quando a nutrição não é adequada ao organismo e leva a quadros de carências nutricionais ou subclínicas (fome oculta, deficit de vitaminas e micronutrientes, anemia, ostopenia, entre outros).

Para ser enquadrado na ortorexia nervosa, o doente tem de apresentar uma preocupação excessiva com a qualidade da alimentação, limitando a variedade​ de consumo e, ​o mais preocupante, fazendo-o ​sem supervisão e sem ​a substituição adequada​, correndo o risco de apresentar quadro de carências nutricionais ou a um quadro completo de distúrbio da conduta alimentar.

No manual de psiquiatria, DSM-V, a ortorexia não foi ainda reconhecida como diagnóstico. Existem, porém, actualmente alguns trabalhos científicos e deve ser considerado com critérios diagnósticos definidos num futuro próximo, provavelmente dentro do DSM-VI. O ortoréxico, busca obsessivamente regras (ou padrões) de alimentação saudável, e aqui o que caracteriza o distúrbio é a palavra obsessivamente, pessoas com ON acabam por se isolar e, dessa forma, prejudicam também as relações sociais e afectivas.

Para se classificar um doente como ortoréxico, é importante uma boa anamnese com base na alimentação, uma profunda investigação laboratorial para observação dos deficits de nutrientes (de acordo com o sexo, a idade, momento evolutivo e as actividades), além do exame físico. Ainda não sabemos qual a prevalência deste distúrbio na população geral, porém alguns grupos foram identificados nos últimos trabalhos científicos. Entre eles, aparecem os artistas, os atletas, os desportistas, os médicos e os nutricionistas.

Mas, neste caso, a linha que separa o ortoréxico de alguém que optou por uma filosofia alimentar nova é muito ténue e tem de ser avaliada sempre pela saúde GERAL de cada pessoa.

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